Olá! Eu sou a psicóloga Luiza Aguiar e este é o podcast “Ansiedade em foco”. Semanalmente eu e um convidado informamos você, psicóloga clínica, que deseja aprender como a ansiedade pode ser tratada por diferentes profissionais da saúde, de maneira individual ou colaborativa.
O foco deste episódio é a violência porque no dia 02 de outubro será comemorado o Dia Nacional de Luta contra a Violência à Mulher. A convidada é a psicóloga Paula Meira Silva Pereira (CRP 04/47399).
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– Luiza: Paula, você pode contar para nós um pouco mais sobre você e o seu trabalho?
– Paula: Sou psicóloga clínica há 8 anos, especialista em Terapia Comportamental e relacionamento abusivo (RA). Eu também apresento a Não Era Amor, em que realizamos atendimentos a mulheres que viveram ou que vivem um relacionamento abusivo. Além de cursos de formação para psicólogos, também buscamos levar muita informação para mulheres, porque acreditamos que informação gera liberdade.
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– Luiza: Você pode contar mais sobre como você identifica a ansiedade nos seus clientes?
– Paula: Um relacionamento abusivo pode gerar vários sintomas, como transtornos depressivos, transtorno de estresse pós-traumático e transtornos alimentares. A ansiedade também é um deles – e muito frequente, inclusive. Muitas vezes, ela não identifica que está vivendo em um relacionamento abusivo, mas sente todos os efeitos psicológicos. Por exemplo, busca ajuda psiquiátrica por conta da ansiedade e quando vamos investigar, vemos que é um sintoma de RA.
Vemos a ansiedade principalmente a partir de uma sensação de alerta constante, como se a qualquer momento alguma coisa de ruim fosse acontecer. E por que isso acontece? Por conta do ciclo da violência, que gera uma tensão e um receio da fase da briga acontecer, até que ela realmente acontece e vive abusos constantes.
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– Luiza: Quais são os principais desafios que você tem no seu trabalho quando se trata da ansiedade?
– Paula: Se a mulher está vivendo no RA, então o ciclo da violência e abusos ainda estão presentes, então ela pode lidar com uma ansiedade muito forte. Às vezes, pode ser necessário um trabalho em conjunto com psiquiatra para introduzir uma medicação para reduzir um pouco os efeitos da ansiedade e nem sempre ela aceita ou ele pode usar disso contra ela.
Se ela tem filhos, é um desafio extra para lidar com tudo que desencadeia da relação, somada à culpa por absolutamente tudo.
Se ela não está vivendo mais no RA, mas ainda tem efeitos psicológicos, é um desafio lidar a ansiedade de entrar em uma relação abusiva novamente, de se relacionar com outras pessoas.
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– Luiza: Você pode contar um pouco sobre um atendimento que te marcou?
– Paula: Casos de violência sempre são muito marcantes. Por mais que vemos muitas coisas nos nossos atendimentos, infelizmente sempre nos surpreendemos com alguma outra violência que elas vivem. O que eu gostaria de falar sobre o que mais me marca e o que fica para mim, são os passos dados, as etapas vencidas, o processo de fortalecimento que cada uma das clientes conseguem dar.
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– Luiza: Existem mitos comuns sobre a violência que você gostaria de esclarecer?
– Paula: “Ela não sai porque não quer”, “ela aceita ser agredida”, “ela é muito resistente” – são algumas de várias outras falas que a sociedade usa com as mulheres que estão vivendo um relacionamento abusivo, que só serve para gerar culpa na mulher. São mitos porque desconsideram várias camadas complexas, como a culpa, o medo, a confusão mental, as fases da lua de mel, os abusos psicológicos, dependências emocional e financeira, escalonamento da violência no término, tudo isso são camadas profundas que dificultam e muito a saída da relação. Uma fala como “basta você sair” não resolve e não ajuda em nada.
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– Luiza: Você acredita que diferentes profissionais de saúde podem contribuir com a redução da ansiedade?
– Paula: Podem e devem. A cliente vai chegar em outros profissionais para pedir ajuda, como médicas, enfermeiras, assistentes sociais. É importante essas pessoas saberem sobre RA para oferecer um atendimento de qualidade e fazer encaminhamentos assertivos para ajudá-la. Não é sobre atender ou não, é sobre quando vai aparecer, porque são números tão alarmantes, que a qualquer momento, por estar na linha de frente de atendimentos, vai aparecer a qualquer momento.
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– Luiza: Que profissional já contribuiu com você e os seus clientes?
– Paula: É um trabalho em equipe. Falamos até então de médicas, enfermeiras, assistentes sociais, mas além disso também temos advogadas. Buscar advogadas que também entendem sobre RA é de extrema importância. É preciso oferecer proteção, suporte e informação.
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– Luiza: Paula, qual é a principal mensagem deste episódio que você gostaria que as psicólogas se lembrem?
– Paula: Eu diria sobre como é importante saber sobre todas as camadas complexas que uma mulher que vive relacionamento abusivo enfrenta; sobre como é importante fazer um atendimento especializado para evitar ao máximo revitimização e fazer os devidos direcionamentos dentro do atendimento clínico ou para qualquer outro lugar que a psicóloga receba as vítimas.
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– Luiza: Muito obrigada por participar do episódio cinco do podcast “Ansiedade em foco”. Como as pessoas podem te encontrar na internet, Paula?
– Paula: Vocês encontram mais informações no perfil da Não Era Amor no Instagram @naoeramor_ e no nosso blog www.naoeramor.com.br. O meu Intagram pessoal é o @psi.paulameira.
Agradeço o convite. É sempre muito importante para nós espalhar informações sobre esse tema para que mais pessoas possam ter acesso. Muito obrigada pelo convite.
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Psi, espero que tenha gostado de conhecer a psicóloga Paula e como tratar a ansiedade quando o medo é real e está tão próximo. Compartilhe este episódio com uma amiga psi para ajudarmos mais pessoas a reduzirem a ansiedade para viverem com tranquilidade.
Nos reencontramos na quarta-feira que vem, às 13h de Brasília, para o episódio “Saúde mental” com o psiquiatra Murilo S. Alves (CRM 10/935 | RQE 8494)!
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Luiza Aguiar Soares
Psicóloga | CRP 04/65266
Texto publicado em 02/10/2024