Olá! Eu sou a psicóloga Luiza Aguiar e este é o episódio número doze do podcast “Ansiedade em foco”.
Semanalmente eu e um convidado informamos você, psicóloga clínica, que deseja aprender como a ansiedade pode ser tratada por diferentes profissionais da saúde, de maneira individual ou colaborativa.
Como o dia 19/11 foi o Dia Internacional do Homem, o foco deste episódio será a saúde mental dos homens. O convidado é o psicólogo Leandro Flávio Machado de Lima (CRP 04/60834).
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– Luiza: Leandro, conte para as psicólogas ouvintes um pouco mais sobre você e o seu trabalho!
– Leandro: Olá, pessoal. Tudo bem? Um pouco sobre mim… Meu primeiro vestibular da vida, em 2000, foi para Psicologia. Fiquei em quarto excedente. Chamaram 3 e eu fiquei de fora. Talvez não fosse o momento. Com algumas dúvidas do que fazer, fui direcionado ao Direito por minha família. Na época meu pai era advogado, o que contribuiu muito com a indicação do curso.
Por longos anos fui advogado com graduação e pós pela PUC. Fiz Direito Processual e outra pós pela Faculdade de Direito Damásio de Jesus; depois Direito Público com ênfase em Administrativo. Amo o Direito. É um curso e trabalho muito belo e gratificante; contudo, a demora para resolução dos casos e a grande necessidade em depender da máquina pública para isso trouxe para mim um pouco de insatisfação.
Por gostar da academia e de estudar, decidir retomar. Sempre fui de fazer muitas coisas ao mesmo tempo – e não, isso não é bom. Em concomitância, fiz o curso de Administração na UFMG (por dois anos) e Psicologia na PUC. A fim de aperfeiçoar meus conhecimentos, fiz uma pós em Psicologia Positiva e outra em Neuropsicologia. Essa última me me ajudou em meu recém diagnóstico de TDAH – o que explica as minhas dificuldades e traz um alívio.
Trabalho com as correntes Comportamental e Sistêmica. Atualmente faço um curso voltado para a TCC com o grande professor Eslen Delanogare.
Também fiz um longo curso de Terapeuta Holístico, curioso em conhecer mais sobre outros processos, para além da ciência da psicologia, que muito mexem com a mente humana.
Minha experiência com surdos… Tenho uma prima surda, também muito estudiosa, que graduou-se em Letras, Pedagogia e Psicologia. ELa é professora no Centro de Capacitação de Profissionais da Educação e de Atendimento à Pessoa com Surdez (CAS), onde fui convidado para fazer um curso de libras. Executei o módulo 1 e pretendo fazer o 2, pois reconheço a grande importância em dar acesso às pessoas surdas aos atendimentos psicoterápicos.
Acredito que enquanto psicólogo, toda minha bagagem de vida e profissional contribui nos atendimentos. Um fato curioso é que, por ter caminhado por várias religiões, isso é um grande facilitador para dialogar com meus pacientes sobre suas crenças. Gosto muito de trabalhar estilo de vida voltado para qualidade e saúde, bem como relacionamentos – área que mais atuo.
Trabalho com a clínica online e a maioria dos meus pacientes são de fora da cidade e estado. Penso ser complicado trabalhar com crianças sem um espaço lúdico e físico e, por isso, me limito a atender pessoas de 16 anos para cima.
Hoje também trabalho como psicólogo escolar dentro de uma escola pública municipal, trabalho que tem me despertado muita satisfação.
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– Luiza: Você pode contar para as psicólogas ouvintes como os homens relatam a ansiedade para você e como você a identifica neles?
– Leandro: É importante dizer que, na maioria das vezes, há relatos sobre a fragilidade na exposição da vida para outra pessoa. Com o tempo e a criação do vínculo, eles vão se soltando mais… Nas sessões iniciais há um pouco de trava.
Vejo a importância em compreender todo o contexto (idade, família, trabalho, etc). Cada qual com suas questões a serem desenvolvidas. Muitos falam da pressão do trabalho, amigos e família – não necessariamente nessa ordem. Com algumas sessões gosto de transitar pelos ambientes do paciente e é assim que consigo identificar os pontos da ansiedade. Entendemos os motivos, as necessidades e como podemos diminuir as crises compreendendo as causas.
É fato que se o mental não está legal, isso vai influenciar os ambientes de sua vida. Falam muito das preocupações no trabalho. Sim, o financeiro! Em especial, quando tem família envolvida, focamos em como levar uma boa vida para ele e para os familiares.
Penso que a virilidade está intimamente ligada à tranquilidade mental. Ansiedade extremada pode atrapalhar o interesse e o desempenho sexual.
Estou lendo um livro sobre as diferenças de comunicação entre homens e mulheres. Percebo que esse é o ponto. Homens naturalmente são mais introspectivos. Quando estão muito falantes é porque há confiança. Então tenham um pouco mais de paciência que com o tempo a sessão será mais fluida.
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– Luiza: Quais são os principais desafios emocionais que os homens têm? E você, como psicólogo que atende homens?
– Leandro: O rapport é de suma importância. É preciso paciência e compreensão sobre o tempo do outro; principalmente quando se trata do emocional. Gosto de trabalhar inteligência emocional com os pacientes, entender o que sentem, as causas e o que fazer com aquilo.
Identifico um descrédito na profissão pela maioria dos homens. Muitos dizem: “como conversar vai resolver meus problemas?”. Eu explico que psicoterapia não é só conversa, que é ciência, porém a chave para um bom processo é a vontade, que sem ela não há o trabalho.
Há dificuldade para abrir a vida para uma pessoa estranha, mesmo que técnica. Ainda mais se for a primeira vez. Segurança deve vir com o tempo. Empatia é primordial. Antes eu tinha uma sensação de frustração pela demora da queixa real, de como fazer intervenções de algo concreto. O começo funciona muito como um teste para o paciente avaliar até onde ele pode ir e como será acolhido pelo profissional.
Nem sempre cabe orientações diretas. Quanto mais reflexivas melhor, pelo menos no começo. Muitos também buscam validações de comportamento e pensamentos que, se contraditados sem argumentos, a sessão não prospera.
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– Luiza: Como você superou os seus desafios profissionais, Leandro?
– Leandro: Certamente com muitas dificuldades. Conversar com profissionais da área e consolidados na carreira faz diferença, pois as dicas ajudam na evitação de alguns erros. Também não quer dizer que se deu certo para ele, dará para você.
Fazer cursos e leitura, além da academia, são boas bagagens de como lidar com as adversidades. Linhas/correntes são importantes, o aprofundar de como resolver e aplicar determinadas técnicas… O que às vezes penso “ser temerário”, pois estaria eu tentando moldar meu paciente com uma técnica, mesmo ele não precisando daquilo naquele momento? Gosto de pensar sobre isso.
Somos seres humanos e, como tal, passiveis de erros. Não devemos nos colocar como grandes sabedores de tudo e, principalmente, da vida do paciente. É não ter vergonha de fazer intervenções, mesmo que deixe a sessão mais tensa… O outro precisa pensar na sua postura, como isso reverbera em si e no outro. Estude sempre!
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– Luiza: Você pode contar um pouco sobre um atendimento que fez e que te marcou?
– Leandro: Em muitos dos atendimentos eu vejo os homens com dificuldade em compreender os próprios limites, permitir uma invasão do outro para ser aceito.
Até pouco tempo eu atendia um senhor sexagenário, viúvo, aposentado e muito ativo. Trabalhamos a importância do amor próprio e autocuidado pois ele estava no percalço de uma companheira, mas havia muitos requisitos/exigências que ele não se encaixava. Eu demonstrava pontos de vista sobre seus desejos e a realidade, como toda a situação o causava muita ansiedade… Ele estava disposto a aceitar alguém em sua vida, mesmo que por interesse financeiro, para não ficar só.
Respeitando sempre o tempo do paciente, conseguimos buscar um meio termo de aceitação e compreensão dos limites saudáveis de um bom relacionamento; quando o interesse é mais no pessoal que no financeiro. Esse atendimento me marcou devido às muitas sessões e relatos pesados para aliviar sua demanda e, quando tomou consciência de si, viu as perdas e exposições desnecessárias por pessoas que não seriam companheiras. Focamos em como identificar mulheres que gostariam de compartilhar uma vida.
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– Luiza: Existem mitos sobre a saúde mental dos homens que você gostaria de esclarecer?
– Leandro: A banca de durão existe e, como eu já disse, é com paciência e persistência que conseguimos avançar nas camadas mais profundas do ser.
É claro que homens choram, mas pouco; dificilmente na frente dos outros e por qualquer coisa. Apesar dos anos – e não só no Brasil! -, temos a cultura de que o homem deve ser forte, viril, não sentir medo, exemplo de resistência e outras coisas mais. Ir contra isso é expor a vulnerabilidade.
Falar da fragilidade do homem, hodiernamente, acredito estar um pouco mais tranquilo devido à abertura de novos pensamentos e à busca por autoconhecimento, desde que não sejam uma imposição.
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– Luiza: Como as psicólogas ouvintes podem ajudar os homens a reduzirem a ansiedade de desempenho?
– Leandro: Não dando diretamente as respostas, mas trabalhando com reflexões. Respostas diretas são problemáticas e não cabem ao profissional. A melhor ajuda que vejo é trabalhando o foco, concentração nas soluções dos problemas e deixando claro que, se existe alguém para recorrer, isso deve ser feito.
Por vezes o fardo pode ser muito pesado para um carregar. Se dividido com respeito, traz mais leveza para a vida do homem saber que pode contar de verdade com alguém. Percebo que temos uma necessidade em não dividir as complicações, que daremos conta sozinhos, mas um dia a conta chega.
Muitos homens carregam estigmas culturais relacionados à vulnerabilidade e podem temer julgamentos. Garanta um ambiente onde eles se sintam à vontade para compartilhar, utilizando uma postura acolhedora e sem críticas. Ajude-o a reconhecer que vulnerabilidade não é fraqueza, mas um aspecto importante do desenvolvimento emocional. Isso pode ser feito validando suas emoções. Por exemplo: “parece que essa situação é realmente importante para você, faz sentido estar se sentindo assim.”
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– Luiza: Você acredita que diferentes profissionais de saúde podem contribuir com a redução da ansiedade das pessoas surdas?
– Leandro: Acredito bastante. Gosto de trabalhar com o tripé sono, atividade física e alimentação. Para mim é a base da qualidade de vida. Estudos demonstram que a ligação entre esses alicerces que contribuem com a redução da ansiedade pode ser abordada de forma integrada pelo educador físico, nutricionista e fisioterapeuta, por exemplo.
O educador físico promove a prática de exercícios que liberam endorfinas e reduzem o cortisol, promovendo relaxamento e bem-estar.
O nutricionista orienta uma alimentação equilibrada, rica em nutrientes como ômega-3 e triptofano, que auxiliam na regulação do humor, além de alertar sobre os efeitos negativos do excesso de cafeína e açúcar.
Já o fisioterapeuta atua no alívio de tensões físicas com técnicas de respiração, alongamento e relaxamento muscular, ajudando a controlar sintomas físicos da ansiedade.
E nós, profissionais da psicologia, com o trabalho da higiene do sono, modulação de comportamento e verificação de como o contexto pode melhorar ou prejudicar a psiquê.
Essas abordagem, conjuntas, promovem saúde física e equilíbrio mental de maneira eficiente.
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– Luiza: Que profissional já contribuiu com você e os clientes?
– Leandro: Como não trabalho diretamente com diagnósticos, recorro às clínicas neuropsicológicas e consigo fazer um atendimento/intervenção pontual das queixas.
De início, procuro descartar complicações fisiológicas. Sempre indico exames com endocrinologistas. Antes das indicações para psiquiatras e neurologistas, gosto de conhecer mais o paciente, entender os motivos que o levam para a terapia. É nosso dever acolher e cuidar dos pacientes, observando holisticamente, até realmente entender a necessidade deles.
A terapia pode ajudar muito sem a entrada de fármacos. Se indico os médicos acima, preciso de tempo para conhecer a história do paciente, seus motivos, se as queixas são recentes ou crônica… Só depois começamos a considerar outras possibilidades.
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– Luiza: Leandro, qual é a principal mensagem que você deixa para as psicólogas ouvintes?
– Leandro: Por mais que nós – homens – sejamos difíceis, não nos abandonem. Hehe!
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– Luiza: Muito obrigada por participar do episódio doze do podcast “Ansiedade em foco”. Como as psicólogas podem te encontrar na internet, Leandro?
– Leandro: Não sou muito fã de redes sociais, mas tenho o Instagram @psileandromachado. O meu e-mail é psileandromachado@gmail.com. Trabalho com uma psicologia focada no indivíduo e seu contexto, considerando pessoa/ambiente e ambiente/pessoa, o que podemos fazer para melhorar a sua vida como um todo. Atualmente as sessões são online – o que traz mais conforto e praticidade para os pacientes, além de não me limitar ao meu território.
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Psi, espero que você tenha gostado de conhecer o Leandro e aprender como a ansiedade impacta a saúde mental dos homens.
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Nos reencontramos na quarta-feira que vem, dia 27 de novembro, às 13h de Brasília, para o episódio “Psi, você sabe a relação entre ansiedade e racismo?” com a psicóloga Karina Sousa (CRP 04/72904).
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Luiza Aguiar Soares
Psicóloga | CRP 04/65266
Texto publicado em 26/11/2024