Olá! Eu sou a psicóloga Luiza Aguiar e este é o podcast “Ansiedade em foco”. Semanalmente eu e um convidado informamos você, psicóloga clínica, que deseja aprender como a ansiedade pode ser tratada por diferentes profissionais da saúde, de maneira individual ou colaborativa.
O foco deste episódio são as crianças porque amanhã, dia 12 de outubro, será comemorado o Dia das Crianças. A convidada de hoje é a neuropsicóloga Fernanda Goulart da Silva (CRP 04/63009).
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– Luiza: Fernanda, você pode contar para nós um pouco sobre você e o seu trabalho como neuropsicóloga?
– Fernanda: Meu nome é Fernanda Goulart. Sou psicóloga formada pela UNA, e pós-graduada em Neuropsicologia, Neurociência e Terapia Cogntiva-Comportamental. Eu atuo com as avaliações neuropsicológicas há três anos e meio e especificamente com o público infanto-juvenil há dois anos. A Neuropsicologia é uma área que se dedica a entender melhor o funcionamento do nosso cérebro, principalmente em demandas que envolvem deficits de memória, atenção, prejuízos na aprendizagem, traços de personalidade, traços ansiosos e depressivos.
– Luiza: Você pode contar como você identifica a ansiedade nos seus clientes?
– Fernanda: Identificar a ansiedade em pacientes infantis e adolescentes pode ser desafiador, uma vez que eles podem não expressar seus sentimentos da mesma forma que os adultos. Por isso, nos atendimentos é importante uma boa anamnese, coleta de informações anteriormente
com os responsáveis pela criança, para posteriormente iniciar o atendimento com a criança.
Na minha prática psicoterapêutica infantil, eu fico atenta a possíveis mudanças de comportamento da criança em diversos ambientes, como casa, escola, amigos. Também fico atenta a dificuldade com a interação, medo excessivo, choro compulsivo e sintomas de desatenção. Muitos pais me procuram para a avaliação neuropsicológica com a demanda de TDAH e, posteriormente, fechamos diagnóstico de ansiedade. Lembrando que é importante observar nas crianças sintomas físicos, pois a ansiedade infantil pode causar dores de cabeça, estômago, mudanças no sono e apetite.
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– Luiza: Quais são os principais desafios que você tem no seu trabalho quando se trata de crianças com queixas de ansiedade?
– Fernanda: Hoje, como neuropsicóloga, acredito que meu maior desafio é o diagnóstico diferencial, pois a ansiedade em crianças pode manifestar-se de várias formas e muitas vezes se sobrepõe a outros transtornos, como TDAH ou depressão. Por isso, é extremamente importante conhecer a fundo sobre os sintomas de cada transtorno e principalmente sobre o desenvolvimento normal da criança.
Outro fator importante dentro das intervenções terapêuticas é a escolha correta de materiais lúdicos que façam sentido dentro das avaliações e intervenções. Não existe brincadeira solta quando o profissional sabe o que está avaliando.
Por fim, outro desafio em consultório muitas vezes é a aceitação da família diante daquele diagnóstico. É necessário envolver a família no tratamento, alinhar objetivos para que se alcance o resultado. Muitas vezes eu noto que há resistência ou falta de compreensão sobre o problema por falta da família, então é importante sempre trazer os pais para o processo, dar feedbacks e orientação parental para que flua o seu trabalho. Claro, respeitando o sigilo da sessão com o seu paciente!
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– Luiza: Você pode contar um pouco sobre um atendimento que te marcou?
– Fernanda: Eu tive um caso de avaliação neuropsicológica que me marcou muito pois foi um grande desafio na minha carreira. O paciente na época – vamos chamar de X! – tinha 7 anos, e a família o tinha levado à um psiquiatra especialista em transtornos infantis que o tinha diagnosticado com o Transtorno do Espectro Autista (TEA) previamente sem nenhuma avaliação. Fez uma consulta de 40 minutos e só.
A família notava algumas características do TEA e eu fiz o processo de investigação neuropsicológica: os pais responderam questionários, fiz visita na escola, acompanhei e observei o comportamento dessa criança durante todo o processo. O que eu friso sempre com os profissionais que eu supervisiono a respeito do raciocínio clínico é a importância de não só aplicar testes, mas também de entender o comportamento para associar às queixas. Ao longo das sessões eu fui notando que, apesar das dificuldades de interação, a criança apresentava grande ansiedade em situações sociais – como falar em público ou interagir com colegas. Esses episódios de ansiedade pareciam ser a causa primária do comportamento retraído, não necessariamente um indicativo de autismo.
Ao final da avalição neuropsicológica e, a partir das avaliações que eu fiz, ficou claro que X tinha um quadro de ansiedade social que manifestava-se através da evitação de situações sociais, comportamentos repetitivos para lidar com a ansiedade, e uma dificuldade em expressar emoções.
A família foi informada sobre os resultados e as diferenças entre TEA e ansiedade. Eu fiz
um plano de acompanhamento terapêutico e a família optou por dar continuidade comigo. Após iniciar a intervenção com foco nas emoções, com os recursos corretos, X começou a apresentar melhorias significativas em algumas semanas após o incio da terapia.
Essa é a importância da avaliação, de você saber o que está fazendo dentro da ética e das evidências científicas para não dar diagnósticos errôneos.
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– Luiza: Existem mitos comuns sobre o trabalho do neuropsicólogo que você gostaria de esclarecer?
– Fernanda: Claro! Assim como é preciso desmistificar na cabeça das pessoas que a Psicologia é para “doido”, na Neuropsicologia a procura não é só para quem tem uma doença grave ou deseja apenas saber se tem ou não tem o TDAH. A neuropsicologia ajuda a traçar o perfil não só cognitivo, mas também comportamental. Eu consigo direcionar onde a pessoa tem mais habilidade, onde tem mais dificuldade, como ela pode implementar isso nos estudos, no trabalho, pensando em produtividade, rendimento e etc. No caso das minhas avaliações infantis, além de direcionar a família e facilitar os estudos com a criança, eu consigo mapear o desenvolvimento da personalidade daquela criança em níveis de ansiedade, empatia e desenvolvimento emocional.
Outro ponto importante e que eu vejo muito por ai é a ideia que o neuropsicologo só aplica o teste de inteligência. As escalas Wenchesler de inteligência fazem sim parte do processo, contudo, a avaliação neuropsicológica vai muito além de só aplicar o WISC. Já me perguntaram também se o neuropsicólogo só avalia ou se trata também. Dentro da neuropsicologia existe duas distintas formas de trabalho: a avalição e a reabilitação neuropsicológica. A escolha depende da demanda, mas muitas vezes trabalham em conjunto em casos de degeneração cognitiva, problemas de memória, atenção, velocidade de processamento e etc. É claro que o neuropsicólogo também é psicólogo, então após a finalização da avaliação – e se existir demandas comportamentais – a gente traça as demandas a serem trabalhadas em terapia.
– Luiza: Você acredita que diferentes profissionais de saúde podem contribuir com a redução da ansiedade?
– Fernanda: Sim! Claro! Acredito que sempre trabalhamos em equipe, então em casos mais graves de ansiedade vamos ter os médicos (psiquiatras, neuropediatras, neurologistas, etc), os terapeutas ocupacionais, nutricionistas, fisioterapeutas e educadores físicos, que contribuem para o manejo e redução da ansiedade. Peçam o registro dos profissionais que vocês procuram!
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– Luiza: Que profissional já contribuiu com você e os seus clientes?
– Fernanda: A avaliação neuropsicológica é um campo multidisciplinar, então normalmente estende para Fonoaudiologia, Terapia Ocupacional, Psicopedagoga, Psiquiatria e, principalmente, Psicologia para tratar as demandas comportamentais observadas durante a avaliação neuropsicológica.
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– Luiza: Fernanda, qual é a principal mensagem deste episódio que você gostaria que as psicólogas ouvintes se lembrem?
– Fernanda: Como neuropsicóloga, a principal mensagem sobre a ansiedade que eu gostaria de transmitir a outros psicólogos é a importância de uma abordagem integrada e compreensiva. A ansiedade não é apenas um sintoma emocional, também envolve aspectos cognitivos, comportamentais e neurobiológicos. É fundamental compreender que cada paciente pode apresentar uma manifestação única da ansiedade, influenciada por fatores genéticos, ambientais e de desenvolvimento.
Incentivo os colegas a adotarem uma perspectiva multidisciplinar, buscando colaborar com outros profissionais de saúde como psiquiatras, terapeutas ocupacionais e neurologistas, para oferecer um tratamento mais eficaz e personalizado. Além disso, é extremamente importante utilizar avaliações neuropsicológicas para identificar os padrões de funcionamento cognitivo que podem estar contribuindo para a ansiedade, permitindo intervenções mais direcionadas. Além, é claro, de sempre dar orientações para as famílias em casos de atendimento infantil e observar as escolhas dos recursos.
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– Luiza: Pergunta 10: Muito obrigada por participar do episódio sete do podcast “Ansiedade
em foco”. Como as pessoas podem te encontrar na internet, Fernanda?
– Fernanda: Aos outros psis que estão nos assistindo, eu dou supervisão para iniciantes na neuropsicologia que gostariam de aprofundar tanto nos instrumentos quanto no raciocínio clínico; aos pais que têm dúvidas sobre o comportamento do filho acerca da ansiedade ou do processo da avaliação neuropsicológica, me sigam no Instagram @neurosaudepsicologia. Vamos conversar! Estou à disposição!
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Psi, espero que tenha gostado de conhecer a neuropsicóloga Fernanda e como é tratar a ansiedade de crianças. Compartilhe este episódio com uma amiga psi para ajudarmos mais pessoas a reduzirem a ansiedade para viverem com tranquilidade.
Nos reencontramos na quarta-feira que vem, às 13h de Brasília, para o episódio “Obesidade” com o psicóloga Luciane Fernandes (CRP 04/59181).
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Luiza Aguiar Soares
Psicóloga | CRP 04/65266
Texto publicado em 11/10/2024