Olá! Eu sou a psicóloga Luiza Aguiar e este é o podcast “Ansiedade em foco”. Semanalmente eu e um convidado informamos você, psicóloga clínica que deseja aprender como a ansiedade pode ser tratada por diferentes profissionais da saúde, de maneira individual ou colaborativa.
O foco deste episódio são os dentes porque no dia 03 de outubro será comemorado o Dia Mundial do Dentista. A convidada é a dentista Kristine Fortunato (CRO MG 63376).
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– Luiza: Kristine, você pode contar para nós um pouco mais sobre você?
– Kristine: Bom dia! Meu nome é Kristine Fortunato. Eu sou de Minas Gerais, Belo Horizonte, formada em Odontologia desde 2022 pela Faculdade Newton Paiva. Sou clínica geral com foco em pacientes adultos e idosos. Meus atendimentos acontecem no bairro Santa Efigênia, na região leste de BH.
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– Luiza: Você pode contar mais sobre como você identifica a ansiedade nos seus clientes?
– Kristine: Sempre antes de iniciarmos o tratamento, faço uma anamnese detalhada. Pergunto tanto sobre as queixas, alterações sistêmicas, doenças e síndromes, quanto medicações tomadas. Existem casos em que o paciente não informa com detalhes e durante a consulta conseguimos observar pelo comportamento e checamos as informações com ele. Quando o paciente procura atendimento queixando de muita dor de cabeça, dor nos dentes, na face, sensação de tensão na face, começamos investigar sobre as desordens temporomandibulares, que inclui o bruxismo. Se durante o exame clínico observamos marcas de desgaste dos dentes, trincas, juntamos com o relato do paciente. É mais uma informação para fecharmos o diagnóstico.
Temos também alguns fatores de risco como paciente que faz consumo de álcool, tabaco, cafeína, distúrbios de sono, problemas de saúde mental, que fazem uso de medicamentos como os inibidores da recaptação de serotonina, têm hábitos parafuncionais de roer unhas, morder tampa de caneta, os lábios… Esses são sinais de que o paciente precisa procurar o atendimento e nós, enquanto profissionais, precisamos assistir esse paciente.
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– Luiza: Quais são os principais desafios que você tem no seu trabalho quando se trata da ansiedade?
– Kristine: Pacientes com ansiedade normalmente já chegam agitados para a consulta e, a depender do nível de ansiedade do paciente, interfere até mesmo na anestesia; ela tem o efeito diminuído ou até mesmo não pega. É comum o paciente relatar “cheguei em casa e a anestesia pegou”. Além disso, a expectativa pelo resultado, pela mudança, que muitas vezes é decisiva na vida dos pacientes, gera muita ansiedade e precisamos saber lidar com esse perfil de paciente.
Por outro lado, para nós profissionais, é muito gratificante fazer parte desse momento, mas impossível não ficar ansiosa e de uma certa medida pressionada pelo resultado. Ou até mesmo ser o profissional que conseguiu acessar o paciente, como eles mesmo dizem: “depois de anos eu só consigo ser atendida se for com você” ou “eu sempre tive muito medo de ir ao dentista, mas agora eu consigo”. Para mim isso não tem preço!
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– Luiza: Você pode contar um pouco sobre um atendimento que te marcou?
– Kristine: O atendimento odontológico ainda é muito associado a dor e traumas, por isso é muito comum os pacientes chegarem extremamente ansiosos para a consulta. Certa vez uma paciente ficou ansiosa a ponto de ter uma crise de pânico e não conseguimos dar sequência no tratamento naquele dia. Demoramos aproximadamente uma hora para contornar a situação. Suor excessivo, choro descontrolado, respiração ofegante, mas depois de muita conversa sobre assuntos aleatórios a paciente compartilhou que estava com problemas na vida pessoal que também interferiram no estado emocional, além dos traumas com dentistas no passado. Agendamos o retorno para nova tentativa e deu tudo certo. A paciente até agradeceu o apoio, o momento de conversa que tivemos. Acredito que o apoio nesses momentos é decisivo. Às vezes a ansiedade que o paciente apresenta não vem do tratamento odontológico, é uma bagagem que ele traz e escutar é muito importante para estabelecermos uma relação de confiança.
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– Luiza: Existem mitos comuns sobre o cuidado com os dentes que você gostaria de esclarecer?
– Kristine: O principal é “tratamento odontológico dói”. Isso é uma crença baseada nos métodos antigos. Hoje, com o advento da tecnologia, temos diversos mecanismos que nos permitem adequar o atendimento àquele paciente… Hoje nós conseguimos fazer até sedação no consultório, então não precisamos mais associar o atendimento odontológico ao terror!
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– Luiza: Quais são algumas das estratégias mais eficazes que você utiliza para ajudar os clientes com ansiedade?
– Kristine: Antes de tudo a escuta é, para mim, o mais importante. Escutar o que o levou a me procurar, se foi algum profissional que o encaminhou, entender as queixas para chegarmos em um tratamento que vai ser eficaz na rotina dele.
Em alguns casos, quando a ansiedade é relacionada ao atendimento, pode ser necessário uso de medicamentos antes da consulta. Em casos em que como consequência da ansiedade o paciente desenvolve alguma disfunção como o bruxismo, nós precisamos de um tratamento multidisciplinar porque o bruxismo é de causa multifatorial. Então precisamos que o paciente esteja engajado no tratamento.
Eu sempre explico que temos 5 pilares importante para termos sucesso no tratamento: (1) Sono, (2) alimentação, (3) saúde mental, (4) atividade física e (5) hábitos parafuncionais. Aliado a esse pilares tem o uso da placa estabilizadora, também conhecida como “placa de bruxismo”. Porém, de nada adianta usar a placa e não fazer essa modulação dos hábitos. Por isso é muito importante esse trabalho multidisciplinar.
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– Luiza: Você acredita que diferentes profissionais de saúde podem contribuir com a redução da ansiedade?
– Kristine: Com toda certeza é imprescindível! Como eu disse, o tratamento precisa ser multidisciplinar. Precisamos a todo tempo estar em acordo com os outros profissionais para ajustar e procurar o melhor para o paciente. Precisamos mandar um encaminhamento, um laudo explicando a condição do paciente do ponto de vista clínico, porque às vezes nem o próprio paciente consegue explicar!
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– Luiza: Que profissional já contribuiu com você e os seus clientes?
– Kristine: Psicólogo, médico, personal trainer, nutricionista e fonoaudiólogo.
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– Luiza: Kristine, qual é a principal mensagem deste episódio que você gostaria que as psicólogas se lembrem?
– Kristine: Para mim o principal de tudo é avaliar bem o paciente inserido em um contexto, nunca avaliar apenas a ansiedade em si. Ela pode ser a causa de muitos problemas, mas também pode ser a consequência de algo maior que aconteceu e ainda não foi acessado. Juntos, nós conseguimos ajudar esse paciente adequando à realidade dele. Um exemplo prático disso é uma paciente que tinha um comportamento diferente, sempre muito ansiosa para os atendimentos e, durante nossa anamnese, ela não havia citado que tinha Transtorno do Espectro Autista e tinha muita sensibilidade a barulhos. Eu só descobri quando liguei o motorzinho e ela ficou extremamente desconfortável na cadeira. Conseguimos fazer o tratamento dela usando fones de ouvidos com música alta e constante. Então buscar entender a causa dessa ansiedade e o que nós podemos fazer para melhorar sempre vai ser o melhor quando falamos da área da saúde.
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– Luiza: Muito obrigada por participar do episódio quatro do podcast “Ansiedade em foco”. Como as pessoas podem te encontrar na internet, Kristine?
– Kristine: @dra.kristinefortunato e vai ser um prazer receber tanto vocês, quanto os pacientes de vocês!
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Psi, espero que tenha gostado de conhecer a Kristine e como a ansiedade pode afetar a saúde dos dentes. Compartilhe este episódio com uma amiga psi para ajudarmos mais pessoas a reduzirem a ansiedade para viverem com tranquilidade.
Nos reencontramos na quarta-feira que vem, às 13h de Brasília, para o episódio “Violência” com a psicóloga Paula Meira Silva Pereira (CRP 04/47399)!
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Luiza Aguiar Soares
Psicóloga | CRP 04/65266
Texto publicado em 28/09/2024